Se a música em sua essência já faz bem ao coração, imaginemos o que ela pode provocar nos seres humanos quando é fundida à ciência? A musicoterapia é justamente o estudo e prática dessa união. Ela é capaz de extrair emoções dos seres vivos, prevenindo e recuperando limitações físicas e psicológicas, consequentemente curando.
A pessoa que participa de uma sessão da terapia por meio dos sons ou sonoro terapia, vive um verdadeiro show à parte, pois a musicoterapia vai muito além da diversão e do prazer, ela também entrega muitos benefícios para a saúde.
O que é musicoterapia
Datada a partir de 1944, a musicoterapia pode ser compreendida como a complementação de tratamentos clínicos associados à saúde mental, emocional, social e reabilitação física. Isso porque através de técnicas fundidas a música, profissionais da saúde conseguem alcançar áreas cerebrais de difícil acesso.
Dependendo do tipo da música que entra através dos sensores auditivos, o hipocampo cerebral pode ser “tocado” ativando a memória, inspirando o lado lúdico e entregando pensamentos esperançosos.
Com a musicoterapia também é possível alcançar regiões instintivas do verme cerebelar (estrutura do cerebelo que modula a produção e liberação pelo tronco cerebral dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina), causando efeitos positivos significativos para a mente humana, como sensação de alegria, bem-estar, diminuição da ansiedade e do estresse.
Países como EUA, Austrália, Noruega e Reino Unido já regulamentaram a profissão de musicoterapeuta. Para exercer a função no Brasil é preciso ter graduação superior na área, mas apenas seis faculdades oferecem o curso bacharelado no país.
Como a musicoterapia age no corpo
Para que a musicoterapia surta efeito no corpo ela precisa primeiramente ser ouvida e sentida. Sem audição é impossível fazer, pois ela trata do corpo sobretudo por meio da mente.
Apesar de o som ser produzido em grande parte pelo musicoterapeuta, em um determinado momento durante a sessão da terapia em questão, os pacientes também participam da produção sonora, cantando, batendo palmas ou tocando outros instrumentos. Há também uma movimentação física, embora sutil. Ela é usada para levar sensação e alívio aos pacientes sendo eles crianças, adultos ou idosos.
A terapia também concede benefícios a longo prazo ao corpo, como a revigoração no sistema imunológico, ativação do sistema cardiovascular e melhora na capacidade pulmonar. É como diz o velho ditado, “quem canta, os males espantam”.
Como a musicoterapia age na mente
Para a saúde emocional e mental a terapia da música é um “santo remédio”, pois conforme já descrevemos aqui, ela age na memória, estudando a relação do indivíduo com os sons em seus ambientes mais comuns e ajudando a se compreender e compreender o mundo ao seu redor muitas vezes através de barulhos cotidianos como passos de pessoas, portas batendo, o canto dos pássaros, o trânsito, entre outros.
Tendo em vista que o indivíduo tem contato com a sonoridade desde o ventre da mãe, concluímos que a musicoterapia influência em diversas áreas. Ouvir um determinado som com frequência, por exemplo, pode ser desgastante para uma pessoa e confortante para outra, tudo depende da vivência que cada uma delas teve junto ao som do exemplo.
Quando nasce um bebê, exemplificando novamente, normalmente ele gosta de ficar debaixo da água com frequência, pois em sua memória sonora o som da água remete a segurança, principalmente porque se assemelha ao som do útero da mãe durante a gestação.
Portanto, a musicoterapia trabalha a autoconfiança, o otimismo, a comunicação não verbal, organização interna, a ansiedade e o desequilíbrio emocional.
Benefícios da Musicoterapia
Muito popular no Brasil, a música tem o poder de quebrar barreiras, estreitar laços, criar pontes e unir as pessoas. Na musicoterapia o seu alcance é potencializado, transpassando e atuando em sentimentos como constrangimento, timidez, angústia, medo, entre outros, que são muito comuns em pessoas com transtornos como depressão, síndrome do pânico, obsessivo compulsivo e estresse pós-traumático.
Ao ouvir um som, ou até mesmo uma música conhecida, o paciente pode se sentir acolhido, se identificar com a canção e despertar a vontade de cantar. Quando isso é realizado de maneira direcionada a um objetivo específico, os resultados podem ser significativos e os benefícios amplos. Vejamos alguns:
- Contribui para a expressão corporal;
- Melhora a respiração;
- Melhora a coordenação motora;
- Alivia dor de cabeça;
- Evita distúrbios comportamentais;
- Contribui para o tratamento de doenças mentais;
- Aumenta a qualidade de vida;
- Ajuda a suportar dores.
Para que serve a musicoterapia
A musicoterapias serve para tratar de diversas funções físicas. A combinação de harmonia, melodia e ritmo, quando bem elaborada e associada aos estudos científicos neurológicos, psicológicos e clínicos pode acalmar, tirar da inércia, energizar, auxiliar na retomada do equilíbrio e até mesmo devolver movimentos motores para quem sofreu algum trauma relacionado ao cérebro.
Por isso, essa técnica é muito utilizada no tratamento de diversas doenças físicas ou mentais, bem como para tratar de dependências. Veja a seguir alguns casos em que a musicoterapia entra em jogo:
Musicoterapia para ansiedade
A terapia que utiliza sons não apenas de instrumentos musicais, como internos e corriqueiros, trabalha questões emocionais e psíquicas em pessoas de diversas faixas etárias.
É importante destacar seu poder preventivo, ou seja, não é necessário já sofrer de ansiedade para iniciar a musicoterapia, o mesmo pode ser utilizado para prevenir o desenvolvimento de tal. Contudo o quanto antes ela for descoberta, diminui o risco de um paciente desenvolver o transtorno.
A técnica apresenta resultados satisfatórios para quem busca por cura neste sentido, pois é multidisciplinar, aderida por psicólogos, psiquiatras, geriatras, entre outros profissionais como tratamento complementar de doenças. Sua resposta não é ágil e nem longa, tudo vai depender do objetivo que o profissional deseja atingir e da disposição do paciente em participar das sessões.
Se “a música acende o cérebro”, conforme definiu o químico e neurologista Oliver Sacks, a musicoterapia é um novo despertar para a vida, ela ativa a criatividade em um processo sistemático de interverção que diminui a ansiedade, entregando uma melhora significativa para pacientes.
Musicoterapia para respiração
É comprovado cientificamente que a musicoterapia também melhora a respiração através de uma de suas vertentes, a cantoterapia. Pelo fato de cantar exigir uma potência maior de expiração, o ato auxilia sendo suporte para trabalhar o equilíbrio respiratório, melhorando a situação da insuficiência cardíaca.
Os exercícios da musicoterapia por meio do canto proporcionam:
- Indução ao relaxamento;
- Diminuição do pânico e da sensação de apneia que ocorrem durante as crises asmáticas;
- Aumento da consciência corporal.
Tratamento da dependência química
Técnica muito comum de ser presenciada em centros de reabilitação para dependentes químicos, a musicoterapia é um dispositivo adicional para ajudar a diminuir o estresse pós recaída e o tratamento de forma geral.
Dependentes químicos que participam de sessões, sejam individuais ou em grupo, sentem menos abstinência, sobretudo por se ocuparem com atividades criativas, que exige esforços mentais e psicomotores.
Além da musicoterapia, a arteterapia frequentemente é inserida no tratamento do vício em drogas e bebidas alcoólicas.
Benefícios da musicoterapia para pacientes com esclerose amiotrófica
Os efeitos positivos que a música proporciona ao ser humano é tamanho que ela é usada para tratar doenças mais severas como a esclerose amiotrófica, doença que causa paralisia motora.
As sessões não são capazes de levar a cura completa das doenças, contudo entrega uma qualidade de vida superior aos pacientes pelo fato de proporcionar relaxamento e sensação de bem-estar.
O tratamento de musicoterapia para a esclerose amiotrófica é realizado juntamente a fisioterapia. Para se obter um bom resultado os dois trabalhos precisam ser desenvolvidos junto com o paciente.
Musicoterapia e autismo
Em pacientes com autismo a musicoterapia atua de forma diferente, sendo uma boa prática para estimular a comunicação e ações cognitivas gerais.
Quando o paciente recebe estímulos sensoriais, ocorre uma comunicação com o cérebro que tende a responder especificando os sons. Durante as sessões o paciente com Transtorno do Espectro Autista (TEA) também tem a fala induzida, mediante a música cantada ou falada.
Musicoterapia para criança agitada e nervosa
As crianças têm mais energia do que os adultos e adultos e por isso muitas vezes não sabem lidar ou expressar suas frustrações, portanto podem se apresentar irritadas e nervosas, em alguns casos até mesmo agressivas.
A musicoterapia também está presente nos processos de psicopedagogia, para auxiliar crianças a se desenvolverem com maior segurança, autoconhecimento e sociabilidade.
Quando a criança é submetida a sessões de musicoterapia por pelo menos uma vez por semana a tendência é de uma melhora considerável na concentração e no diálogo.
Por meio da descoberta dos sons e ritmos, que estão presentes também em nosso corpo e ações, como os batimentos cardíacos ou nossos passos, essas crianças mais agitadas ficam emocionalmente mais fortes e com melhor desempenho escolar.
Musicoterapia para bebê prematuro
Nascer antes da hora esperada não é fácil. Os bebês prematuros lutam muito para sobreviver e precisam de terapias intensivas, com acompanhamento médico 24 horas e muitas vezes terapias adicionais, como a musicoterapia.
Com o corpo terminando de se formar crianças recém-nascidas de sete ou oito meses podem ter a saturação do oxigênio favorecida através da musicoterapia. Outra melhoria observada por neonatologistas se refere à melhoria dos batimentos cardíacos e no sono dos pequenos.
Musicoterapia para idoso
Asilos e casas de repouso para o público da terceira idade recebem frequentemente a visita de musicoterapeutas.
Idosos tendem a encontrar mais dificuldade em participar de sessões de terapia musical pela perda da audição ser mais comum nesta faixa etária, sendo necessário o uso de dispositivos e acessórios que facilitam na hora de ouvir e sentir a sonoridade.
As pessoas com idade superior aos 60 anos necessitam de atenção especial no tocante ao resgate de memórias afetivas. Em virtude disso, profissionais da música que atuam junto a esse público rememoram músicas que fizeram sucesso no passado, para estimular o otimismo, acalentar o coração e fazer os vovôs e vovós cantarem.
Eles também são encorajados a tocarem instrumentos de percussão ou de corda e lerem as letras das músicas. O objetivo é trabalhar a coordenação motora e a atividade muscular dos olhos, assim como promover o resgate da autoestima, o que resulta numa diminuição importante de crises depressivas.
Quem não pode fazer musicoterapia
Pessoas de todas as faixas etárias podem se beneficiar da musicoterapia, com duas ressalvas, quem sofre de anedonia musical, cujo principal sintoma é não gostar de ouvir música. E pessoas que sofrem da perda auditiva, que pode acontecer de maneira gradual, muitas vezes imperceptível, sendo necessário realizar teste para identificar.
A boa notícia é que para o último caso mencionado acima, perda de audição há solução. Os aparelhos auditivos estão cada vez mais evoluídos, podendo entregar conforto e segurança para o consumidor, o possibilitando até mesmo de ter essa experiência com a musicoterapia.